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Útera Terra

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O corpo da artista se move com a consciência da ação da força de gravidade a partir do centro da Terra. A força de gravidade é reconhecida como o amor que conecta todos os seres à Terra. A artista se permite ser movida pelo útero primeiro, parida pelos sulcos de Gaia. Inspirada nos padrões de desenvolvimento do movimento ontogenético (desenvolvimento humano infantil) e filogenético (progressão evolutiva no reino animal). O movimento expressa no corpo da artista a memória da respiração celular, movimento de pulsação, de esponja, aprendendo a rastejar, a se mover, como seres primordiais, peixes, lagartos, mamíferos, a rolar como um bebê em busca da nutrição materna. Evoca a gestação, o momento de gestar a vida, e assim o aspecto feminino de cuidado, fertilidade, autopreservação. O aspecto da natureza selvagem, no sentido de não domesticada, autóctone.

A Ecoperformance Útera Terra deriva da pesquisa realizada pela artista Ninhos da Terra, site specific criado nos territórios de bioma do cerrado da Chapada dos Veadeiros e na Chapada Diamantina, o trabalho teve inicio em 2017. A artista Eva Maria Maria busca envoltórios côncavos nos biomas naturais, com a intenção de criar composições através de imagens poéticas entre o corpo humano, se remetendo a fragilidade do feto, e a Terra como entidade viva. A Gaia mãe de todos os seres. As imagens geradas pela performance despertam sensações de confiança, entrega, sustentabilidade e acolhimento em um espaço sagrado que protege a vida em estado de vulnerabilidade, porque em desenvolvimento. O contraste entre a fragilidade e a força da vida presentes no mesmo momento: o inicio, a concepção, gerar (gestar) criar e manter (a manutenção da vida).

O corpo coberto por argila, a artista se aninha em posição fetal dentro dos envoltórios: úteros construídos com terra de diferentes cores, com uma contenção de tecido ao redor para manter o formato arredondado e côncavo ao centro. A obra que sofrerá a ação do tempo e do clima se modifica ao receber a interferência da chuva, do Sol, do vento e da ação humana, através da interação da artista durante a performance, ao receber o peso e o formato do corpo.  

A performance se desenvolve como um ritual, uma oração para intuir o amor diante do medo. Uma ação poética da força em contraste e complemento com a vulnerabilidade. A vida protegida e sendo gerada no ventre da terra, dentro de envoltórios orgânicos. A artista rola e se move, entoa canções de ninar que acompanham a ação como mantras, acalmam os medos e criam uma contenção sonora evocando confiança e conexão com a ancestralidade feminina. A Terra como a primeira mãe quem nos provê, nos sustenta para a manutenção da existência. Mesmo quando a humanidade está se extinguindo, diante dos desastres ambientais, de todos os conflitos, pessoais ou políticos, dos interesses econômicos prevalecendo sobre a vida, a obra manifesta resiliência para continuar criando poesia e beleza na simplicidade da relação com a matéria terra, se nutrir pela sensibilização dos sentidos, através do conceito de unidade entre o espiritual e o material.

A voz vem com um suspiro, vem do ventre e ressoa na caixa craniana e torácica. Uma canção de ninar inicia no volume mínimo, uma voz e um corpo que acorda, até se lançar em cascatas sonoras do grave para o agudo, a criatividade e abertura para um estado de movimento e expressão vocal. Entoando canções de ninar de matriz africana, portuguesa e indígena.

 

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